

Nasci no dia 9 de outubro de 2000, segundo consta no meu registro. Diferentemente de outras crianças que nasceram naquele mesmo dia na maternidade pública do meu município, não tive aconchego de mãe, nem carinho de pai, acho que só atenção das enfermeiras. Ao invés de vir para casa, foi direto para um abrigo, aliás, espaço onde até hoje posso chama de meu lar.
Segundo relato das enfermeiras minha genitora disse que não poderia me criar e não queria essa responsabilidade e fugiu do hospital após dá a luz. Até hoje não consta na minha certidão nome de mãe ou pai, mas só a data e o local de nascimento, isso significa que não pertenço a ninguém a ninguém só a Vitória filha do Brasil.
Há o nome de Vitória é por que nasci doentinha, acho que minha genitora era usuária de drogas. Também tinha o vírus Aids, graças a Deus negativou, hoje sou uma criança ou como dizem uma pré-adolescente, pois faltam poucos dias para completar 12 anos, saudável.
Há uns quatro anos atrás um casal esteve aqui dizendo que estava procurando uma filha. Quando me viram se decepcionou e disse para a assistente: Na foto ela parecia mais clara. Será que o amor paterno/materno é baseado na cor da pele, aparência física, idade e demais requisitos que compõem o chamado perfil procurado pelos pais adotivos? Graças a Deus que eles desistiram certamente não tinham amor para dá. Não entendo por que os candidatos a pais adotivos escolhem tanto, pois quando se tem filhos biológicos não se escolhe a cor da pele, o sexo, a saúde…
O que mais me preocupa é que daqui a oito anos serei “maior de idade”, terei de deixar o abrigo, que é a única coisa que tenho. Não sei que poderei enfrentar a vida, mesmo que já saia com um emprego. Quem me orientará sobre a vida em sociedade? Se determinado namoro ou amizade é bom ou não para mim? Quando estive confusa quem será minha conselheira?
Sei que numa família os pais não colocam os filhos para rua, para viver por si, quando completam 18 anos. Por isso preciso urgentemente de um pai e/ou mãe para curtir minha juventude e serem meus conselheiros na vida adulta.
Todo o dia escrevo algo de novo neste meu diário, espero que um dia possa registra nele o nome de meus pais e demais familiares. Neste diário escrevo a minha história, que é também a história de milhares de crianças que vivem nos abrigos, casa de acolhimento, ou qualquer outro nome que tenha, do nosso Brasil. Chamo-me Vitória, Antônia, Maria, Marcia, André, João, José… Independente do nome, da raça, da idade, do sexo somos crianças e adolescentes que precisamos de afeto, cuidado, carinho… Precisamos de um lar, uma família.